O despertador toca
ainda de madrugada. Faz frio em Auburn, mas Bruno Fratus sai debaixo das cobertas sem
reclamar. São 5h da manhã e ele já está de pé, a caminho da piscina. Lá, o
técnico Brett Hawke o espera para mais uma sessão de treinos dentro e fora
d'água, que só vai terminar quando o sol se for. Quer ganhar e trabalhar a sua confiança. Em menos de um mês de parceria, o olhar
apurado do técnico já detectou mais qualidades do que o próprio pupilo consegue
enxergar. E a solidez psicológica que foi buscar no Alabama, parece estar mais
próxima de ser alcançada do que poderia imaginar.
Bruno já é mentalmente forte. Para mudar sua vida para
outro país para cumprir seus objetivos requer força mental. Terminar em
quarto lugar nas Olimpíadas de 2012 exigiu força mental. O que estou tentando
fazer é dar a ele meu conhecimento e experiência para que possa colocar seus
pés no pódio em 2016.
Há uma equipe de pessoas que trabalha e nada em Auburn,
que vai ajudá-lo em todos os aspectos de treinamento e performance. Ari (Arilson
Silva), o técnico anterior de Bruno, fez um trabalho fantástico com ele até
esse ponto da carreira. Bruno é um dos mais completos atletas com quem já
trabalhei. Sua velocidade em cima da água é incrível! Eu vejo necessidade de
melhoria em pequenas áreas, como sua saída e o breakout (momento em que o
nadador quebra a superfície da água no início de nado, após uma saída ou
virada). Além disso, vou voltar a treiná-lo para os 100m livre para o
revezamento brasileiro - disse.
O foco do trabalho de Hawke não visa apenas a preparação
do corpo. O ex-mentor de Cesar Cielo é conhecido por manipular mentes. Não à
toa é considerado por seus atletas como o melhor psicólogo que já tiveram. Os
poucos dias sob sua batuta já fazem Fratus sentir o mesmo.
- Tive a melhor recepção possível. O espírito de
time é muito grande e extremamente enraizado na cultura daqui. Isso faz com que
a adaptação também seja rápida e fácil. Aqui a atenção aos detalhes é muito
grande, a forma como lidam com a técnica é cuidadosa e, além disso, todos
trabalham bem pesado todo dia e toda hora. Todos os dias o treino físico e
o mental estão totalmente conectados - afirmou o nadador.
Marcelo Chierighini e Beatriz Travalon são os brasileiros companheiros de equipe de Fratus (Foto: Arquivo Pessoal)
O desejo de fazer parte daquele grupo nasceu em 2011,
após a breve passagem de três dias pela pacata cidade americana. Naquele mês de
maio, Fratus foi pedir ajuda ao treinador australiano. Queria melhorar a sua
técnica de saída. Diante da nova oportunidade, não titubeou. Deixou a agitação
de São Paulo para poder pensar apenas "em nadar mais rápido". Sem
muitas opções de lazer, Auburn vive em função da universidade. Fica quase
deserta no período de férias. Mesmo que os relatos de solidão de companheiros de
seleção que passaram por lá sejam conhecidos, o velocista prefere encarar que
esse será o melhor lugar para estar até as Olimpíadas de 2016. Se a saudade do
Brasil bater, terá por perto a noiva Michelle Lenhardt e um bom chimarrão.
Por enquanto, só tem um pensamento recorrente: quer ser o
número 1 nos 50m livre nos Jogos do Rio. Neste ciclo olímpico, o posto foi
recuperado por Cielo. Em dezembro, recuperado de uma cirurgia no ombro, Fratus
voltou a medir forças com o tricampeão mundial da prova no Torneio Open.
Bateu na frente, se aproximou de seu melhor tempo e
recebeu uma mensagem de Brett Hawke: "Mal posso esperar para treiná-lo
para o Rio".
- Sem dúvida foi motivante ler isso. Acho que ambos
esperamos o mesmo um do outro: resultado. Atleta e treinador precisam um do
outro para atingir um objetivo em comum. E, nesse caso, acho que nem preciso
dizer qual.
Para a primeira temporada de trabalho, Brett Hawke não
cria expectativas sobre resultados. Prefere falar no que será feito para
mantê-lo motivado e disposto a corrigir tudo o que for necessário para que
possam alcançar o objetivo daqui a dois anos. Não tem dúvidas de que Fratus e
também Marcelo Chierighini chegarão prontos para brigar por medalhas.
- Eu só quero que ele desenvolva uma relação de
confiança comigo e minha equipe para que continuemos a avançar e crescer em
áreas nas quais podemos fazer melhorias. Vou cercá-lo de atletas como Marcelo,
que vai puxá-lo todos os dias.
Nós não esperamos ser bem-sucedidos, nós trabalhamos
para isso. Todos os dias você pode esperar que iremos maximizar as
oportunidades que nos são apresentadas. Não podemos controlar o futuro, mas
podemos controlar o hoje e as decisões que irão afetar nossas vidas
diariamente. Nós nos esforçamos para sermos os melhores do mundo e acreditamos
que podemos alcançar a grandeza juntos